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Transformar o bairro, os assentamentos e as vidas por meio da arte e da educação. Essa é a missão do Coletivo A Gente, grupo formado por sete jovens artistas periféricos que têm levado oficinas de teatro, vivências artísticas e formações pedagógicas ao bairro de Felipe Camarão, em Natal (RN), e a diversos assentamentos rurais do estado.
Formado por sete jovens, que assumem o protagonismo do seu bairro: Francisco Silva, Julye Alves, Nirlando Messias, Raphael Formiga, Erica Belizia/Marte, Cyntia Soares e Alisson Lima, o projeto tem transformado a vida de crianças, jovens e adultos. Ao todo foram atendidas aproximadamente 200 crianças em diferentes momentos e contextos. E continuam transformando e criando.
Neste primeiro semestre de 2025, dentro do projeto Obompó-Ropongá, o Coletivo investigou elementos e linguagens da literatura para inspirar novas formas de criação. Junto com as crianças, criaram diários e vídeo livros a partir de encontros semanais. Os arte-educadores do Coletivo coletaram memórias das crianças e criaram seus próprios diários. Cada uma recebeu folhas para construir seu próprio diário, à sua maneira, com escritos, desenhos, colagens.
Em parceria com a ONG Família Criativa do Campo, que desenvolve um trabalho profundo junto a famílias e assentamentos rurais no sertão potiguar, o Coletivo A Gente amplia sua atuação para além da capital. Além disso, mantém uma colaboração contínua com professoras e professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), promovendo formações para educadores e estudantes. Com isso, o coletivo fortalece a circulação de saberes entre campo, cidade e academia, expandindo o alcance da arte-educação para muito além das salas de aula.
O coletivo é um dos pioneiros em arte comunidade, quando utilizam as praças públicas enquanto lugar de ensino, vivências e trocas artísticas. Prova disso é o depoimento de uma das participantes e moradora do bairro de Felipe Camarão. “O projeto modificou completamente minha vida. Percebi através do Coletivo que posso ter perspectivas e traçar novos horizontes. Eles me mostram que posso ser quem eu quiser e sonhar”, disse Damares Kayllany (11 anos).
Arte – Educação: Mudança do Imaginário
Para o Arte Educador Alisson Lima, o projeto carrega vários significados. “Um deles é essa mudança de imaginários. O bairro de Felipe Camarão, por exemplo, que é um bairro constantemente associado à imagem da violência, da criminalidade, lentamente nesse processo que começou antes, mas mais forte ainda, com essa resistência do coletivo mudamos o imaginário, trazendo mais cores e afeto.
Através de ações como “O Fogo da Memória”, oficinas de literatura e teatro, realizadas em praças e espaços públicos de Felipe Camarão e assentamentos rurais, o coletivo contribui para o fortalecimento de identidades culturais baseadas nas raízes africanas e indígenas, promovendo a dignidade e o reconhecimento das histórias e saberes que moldam a comunidade.
Cyntia Soares acredita que o projeto representa “coragem pra poder existir”. Francisco Silva, que compõe o Coletivo A Gente, escreveu seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Teatro na UFRN sobre a experiência vivida pelo projeto e realizou a banca no próprio bairro, transformando tudo ao redor. “O projeto representa a transformação porque eu acredito que é pela infância sabe que começa a transformação”. Francisco é um dos facilitadores/professores que multiplicam o conhecimento tanto pelo bairro como para outros professores. “A ideia é transcender a sala de aula e transformar o ensino em possibilidades de imaginação”, reflete.
Erica Belizia – Marte, que é fotógrafa escreveu que o projeto representa pra “a força como comunidade em ação, em busca dos pequenos detalhes dessa vida que ainda nos faz forte e feliz”. Já Julye Alves disse que o projeto representa a resistência do afeto coletivo. Para o design e criador Raphael Formiga: “Fazer esse projeto é como se eu estivesse dando a alguém o acesso que me foi negado, é uma tentativa de romper com esse ciclo de desigualdade”.
Todos juntos transformam o bairro, a vida e assim como a horta que se transforma a cada dia e o fogo da memória vivenciado com histórias e memórias, eles conseguem romper qualquer barreira e escrever na história, a vida transformada com dignidade.
Sobre o Coletivo A Gente
O Coletivo A Gente é composto por jovens artistas negros, indígenas, LGBTQIAPN+ e neurodivergentes da periferia de Natal. A diversidade é a essência desse grupo, que se posiciona como um motor de transformação social. O trabalho do coletivo vai além da arte, tocando em questões profundas de representatividade, inclusão e igualdade de direitos, representando a força das juventudes de territórios marginalizados.
O grupo se dedica, desde sua fundação, a promover o letramento étnico-racial e a criar espaços de empoderamento, pertencimento e formação artística, com foco nas juventudes e infâncias da periferia.
Sobre o Projeto Obompó – Ropongá
A transformação não é só simbólica: o Obompó-Ropongá foi contemplado pelo Programa de Editais Transformando Energia em Cultura 2024. Além do apoio de três editais públicos ligados à Lei Paulo Gustavo, além de ser aprovado no edital do Banco do Nordeste (BNB) através da Lei Rouanet. Esses recursos não apenas viabilizam a continuidade do projeto, mas também promovem a inserção de jovens na economia criativa, ao mesmo tempo que validam a arte como um caminho digno e necessário para a construção de uma sociedade mais justa. Impactando diretamente as periferias de Natal e de várias cidades do interior do estado, o projeto é um vetor de transformação social e cultural que reverbera por onde passa.
Para mais informações, entre em contato com o Coletivo A Gente através do e-mail: contato@coletivoagente.org
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