Tensão entre os governos de Trump e Lula cresce, e bloqueio do sistema de navegação GPS entra no radar como possível medida de retaliação.

Por Lado B Notícias Publicado em 21 de julho de 2025
O conflito diplomático entre Brasil e Estados Unidos ganhou novos contornos nas últimas semanas. Após o ex-presidente Donald Trump anunciar o aumento de tarifas sobre produtos brasileiros — em retaliação a decisões judiciais contra Jair Bolsonaro — uma nova possibilidade passou a circular entre apoiadores do ex-presidente brasileiro: o bloqueio do sinal do GPS americano no território brasileiro.
É importante destacar, desde já, que não houve qualquer declaração oficial do governo Trump sobre essa medida. A ideia vem sendo ventilada apenas nos bastidores políticos e em redes sociais, como uma suposta resposta à determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que impôs o uso de tornozeleira eletrônica ao ex-presidente brasileiro. Diante do risco de fuga e da escalada de tensões políticas, o ministro Alexandre de Moraes dobra a aposta — e o governo Trump, segundo especulações, poderia fazer o mesmo.
Mas o que aconteceria caso os EUA realmente cortassem o GPS no Brasil? As consequências seriam severas — e não só para o Brasil.
O que é o GPS e por que ele é tão importante?
O Sistema de Posicionamento Global (GPS) é uma rede de satélites operada pelos Estados Unidos e utilizada mundialmente para localização geográfica. Presente em celulares, carros, aviões, drones, tratores, serviços de entrega, telecomunicações e até nos bancos, o GPS se tornou parte essencial da infraestrutura digital global.
Mesmo com a existência de outros sistemas — como o BeiDou (China), Galileo (União Europeia) e GLONASS (Rússia) — a maioria dos dispositivos ainda usa o GPS como base principal.
É possível os EUA bloquearem o GPS no Brasil?
Sim, tecnicamente é possível. O sistema é controlado pelo Departamento de Defesa dos EUA e já foi parcialmente bloqueado ou degradado em zonas de conflito, como no Oriente Médio. É possível limitar ou cortar o acesso ao sinal civil (L1) em áreas específicas, com impacto imediato em usuários civis.
Fontes públicas, como o Serviço de Posicionamento Navstar GPS (do governo dos EUA), indicam que o sinal pode ser negado, interrompido ou reduzido em qualquer região por motivos de segurança nacional ou interesse estratégico.
O que aconteceria se isso ocorresse no Brasil?
- Prejuízos imediatos em transporte e logística
Apps como Uber, 99, Waze, Google Maps, iFood e Loggi parariam de funcionar corretamente. Caminhões com rastreadores ficariam “cegos”. Empresas de transporte aéreo e marítimo enfrentariam desorganização e atrasos críticos.
- Agronegócio perderia tecnologia de ponta
Tratores e colheitadeiras de agricultura de precisão, como os da John Deere, deixariam de operar com eficiência. Isso afetaria a produção e exportação agrícola, um dos pilares da economia brasileira.
- Setores estratégicos seriam impactados
Aeronaves e sistemas de navegação aérea perderiam referências.
Redes de telecomunicação sofreriam falhas por dependerem da sincronia de tempo do GPS.
Bancos poderiam enfrentar dificuldades com sistemas de transferência e operações em tempo real.
E os EUA? Sofreriam também?
Sim — e muito.
Muitas empresas americanas dependem da operação plena do GPS no Brasil:
Google, Apple, Uber, Amazon, Microsoft, Meta (Facebook/Instagram), entre outras.
O bloqueio causaria prejuízos bilionários, perda de usuários, quebra de contratos e até ações judiciais de parceiros brasileiros.
Além disso, romperia acordos comerciais e de cooperação, como o uso da Base de Alcântara, gerando desgaste diplomático com outros países da América Latina.
Risco real ou blefe político?
Especialistas consideram a medida extrema e pouco provável — mas não impossível.
Em situações de forte tensão diplomática — como a atual, com Trump pressionando o governo brasileiro e o STF dobrando a aposta contra Bolsonaro — ações antes impensáveis podem entrar na mesa.
Em 2020, por exemplo, os EUA ameaçaram cortar o acesso ao Google Play e Apple Store no Irã. O uso de tecnologias como ferramenta de pressão geopolítica está cada vez mais comum.
Contudo, até o momento, o bloqueio do GPS ao Brasil é apenas uma especulação que circula em meios políticos e redes sociais, sem confirmação oficial do governo norte-americano.
Alternativas do Brasil
Caso o bloqueio se concretize, o Brasil poderia:
Adotar o sistema Galileo (União Europeia) ou o BeiDou (China);
Investir em infraestrutura nacional de posicionamento;
Estimular a compra de dispositivos com receptores multiconstelação, que funcionam com GPS, GLONASS, Galileo e BeiDou.
O problema: isso leva tempo, exige dinheiro e depende de parcerias estratégicas externas.
Um possível bloqueio do GPS americano no Brasil seria devastador a curto prazo para os brasileiros, mas traria sérias consequências políticas e econômicas para os próprios Estados Unidos a longo prazo.
Mais do que uma questão técnica, trata-se de um jogo de poder, onde a tecnologia se torna instrumento de guerra fria moderna.
Enquanto isso, o conflito entre os dois governos continua escalando — e o Brasil, mais uma vez, corre o risco de ser campo de batalha de interesses internacionais.